sexta-feira, 13 de abril de 2012

Deus ou o Big Bang?

Deus ou o Big Bang?
Dom Redovino Rizzardo, cs - Bispo de Dourados - MS

Há cristãos que continuam convictos de que, para serem coerentes com a fé que receberam da Igreja, precisam recorrer a uma interpretação literal da Bíblia, como se ela fosse um livro de ciências naturais ou de história universal. Para o Papa Bento XVI, ao invés, nada impede que se acredite que o universo tenha tido a sua origem num Big Bang conduzido por Deus.
Foi o que deixou entrever na quinta-feira, dia 6 de janeiro de 2011, festa da Epifania de Jesus, data em que o Evangelho de Mateus fala de uma estrela que conduziu uns magos desde o Oriente até Belém: «Há pessoas que querem nos fazer acreditar que o universo é resultado do acaso. Pelo contrário, contemplando o universo, somos convidados a pensar na sabedoria de Deus e na sua criatividade inacabável».
Foram várias as vezes em que o Papa se pronunciou sobre a evolução do universo, apesar de raramente se haver referido ao Big Bang, a imponente explosão que os cientistas acreditam ter ocorrido há 14 bilhões de anos, da qual se iniciou a formação do cosmos.
Para Bento XVI, a ciência, por si só, não é suficiente para chegar ao âmago da realidade, que só pode ser apreendida através do acordo entre inteligência e fé, ciência e revelação, as duas luzes que guiaram os Reis Magos a Belém. Em sua opinião, algumas teorias científicas apoquentam a mente e deixam sem resposta as questões mais importantes: «Só é possível compreender a beleza do mundo, o seu mistério, a sua grandeza e a sua racionalidade se nos deixarmos guiar por Deus, criador do céu e da terra».
Se a religião não pode tomar o lugar da ciência, esta, por sua vez, deve perder seu orgulho de autossuficiência e entender que muito da realidade escapa ao seu alcance. Numa palavra, imitar o exemplo dos Magos, autênticos buscadores da verdade: apesar de sábios – ou melhor, por isso mesmo –, não se envergonharam de pedir auxílio à religião para chegar a Belém. Eram homens de ciência – em seu sentido mais amplo – que observavam o cosmos e o consideravam um grande livro, cheio de sinais e mensagens de Deus para o homem. Uma ciência que, ao invés de se julgar autossuficiente, se abria a revelações e mensagens divinas.
Assim sendo, o título que dei ao artigo deveria ser mudado: ao invés de “Deus ou o Big Bang”, o certo seria “Deus e o Big Bang”.
Não são poucos os que defendem o criacionismo e combatem o evolucionismo porque julgam que somente assim se pode salvar a existência e a ação de Deus. Para eles, criação e evolução não podem andar juntas. Para manter intacta a fé, apegam-se ao relato da criação como as primeiras páginas da Bíblia o descrevem –, no máximo, substituindo os seis dias por períodos, ciclos ou eras.
Entretanto, criação e evolução fazem parte de um único processo: o universo teve início num ato de amor de Deus e continua sendo desenvolvido e completado por ele – sobretudo através da atividade humana – ao longo dos tempos. A criação aconteceu no passado e acontece no presente, num processo lento e constante, resultado de uma infinidade de altos e baixos, que deveriam conduzir progressivamente a humanidade a níveis cada vez mais elevados.
“Deveriam”, porque o pecado fez sua aparição no mundo e, com ele, tudo ficou mais complicado. Em todo caso, quem não se deixa contaminar por ele, descobrirá que o universo, a natureza e principalmente o ser humano refletem muito da beleza, da grandeza e do amor de Deus. Nem precisará de argumentos que provem a existência de Deus: em toda a parte, ser-lhe-á visível o milagre divino.
É também por isso que, quanto mais cristão ele for, mais se preocupará com o planeta, para que a criação continue seu caminho evolutivo onde o espírito e a vida tenham a primazia. Nesse processo, ao invés de um obstáculo, a fé se transformará num facho luminoso a guiar a inteligência e a atividade humana, até que se realize a utopia vislumbrada pelos profetas: «Vou criar um novo céu e uma nova terra» (Is 65, 17), e realizada por Jesus: «No final, Cristo entregará o Reino a Deus Pai, depois de ter destruído as forças do mal. E quando todas as coisas lhe tiverem sido submetidas, ele também se submeterá àquele que tudo lhe submeteu, para que Deus seja tudo em todos» (1Cor 15,24.28).

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Recuar um passo...

Por Ricardo Tadeu Sá Teles

Conta a história que Lênin, a fim de justificar a sua Nova Política Econômica, disse aos seus camaradas de partido que era preciso “recuar um passo para avançar dois”. Vitorioso internamente, a NEP foi implementada e seus resultados serviram de base ao sucesso do regime comunista, para a frustração daqueles que viam no “recuo” uma descaracterização da vitória de 17. Ao longo do século XX, hábeis políticos souberam recuar em momentos de apogeu para fortalecer um projeto coletivo e depois retornar com a força e a legitimidade de quem se ofereceu como instrumento de um processo e não seu condutor. O exemplo brasileiro mais recente disso foi do presidente Lula que tendo maioria no congresso, amplo apoio popular e a certeza da fácil segunda reeleição, não emendou a constituição e terminou seu mandato com força suficiente para retornar em 2014, caso avalie que deva fazê-lo.

Em Osasco estamos vendo a configuração de um cenário que guarda certa semelhança com o da presidência. O Prefeito Emídio está no seu segundo mandato e possui uma aprovação que lhe garantiria a manutenção no poder. Não pode, porém, concorrer, em razão do que diz a emenda constitucional nº16, mas pode mesmo assim, influenciar decisivamente o processo.

A oposição deverá lançar o ex-prefeito Celso Giglio que obteve na ultima eleição pouco mais de 90 mil votos a deputado estadual1. Sua votação e potencial candidatura, podem ser explicadas pelo recall que a população osasquense guarda da sua figura, sempre presente nas eleições com robustas campanhas.

Do lado do governo um possível e competitivo nome para essa disputa é o do deputado federal João Paulo Cunha. Contudo uma decisão do Supremo pode impedi-lo de participar do processo eleitoral e, ainda que seja absolvido e saia candidato, enfrentará uma campanha focada na crítica ao seu envolvimento na crise política de 2005.

Se para o executivo a escolha de um nome não está sendo fácil ao partido do prefeito Emídio, na câmara de Osasco é ainda mais complexa a definição da estratégia que será adotada. Em 2008 a bancada do PT caiu de cinco para quatro vereadores1 em um universo de 21 cadeiras. Naquele ano o partido controlava a prefeitura tal como agora e isso em nada ajudou a ampliar o número de eleitos, portanto a perspectiva para a próxima legislatura é, no máximo, de manutenção no número atual de vereadores petistas.

Colocada, então, a necessidade de pensar 2012 a partir dos quadros partidários disponíveis, é inevitável que se discuta a possibilidade do uso de Emídio na disputa legislativa municipal, de modo a aproveitar sua força para: a) eleger uma bancada numerosa; b) colar sua imagem a do candidato escolhido pelo partido para prefeito; c) manter-se em evidência na cena política para a disputa de 2014 e; d) gabaritar-se como principal nome da boa política osasquense, alguém capaz de disputar um cargo de menor importância para fortalecer o projeto de seu partido.

A Eleição de uma bancada numerosa deve ser uma preocupação central em uma disputa eleitoral, pois caso ocorra a eventual derrota do candidato majoritário, seria possível o exercício de uma forte oposição e o posterior retorno. Em Osasco, nomes petistas derrotados na última campanha à câmara, secretário municipais sem experiência eleitoral, bem como os atuais vereadores do PT, deverão sair candidatos em 2012 ao legislativo e disputarão entre si o eleitorado nos mesmos nichos em que o PT historicamente tem boa votação para a câmara. Cabos eleitorais já comprometidos com vereadores da base (porém de outros partidos) dificilmente serão cooptados para campanhas petistas, tal como não foram em 2008, pois estão na máquina, são governo, possuem certa fatia do poder e sabem que os partidos da base aliada compreendem melhor seus interesses pragmáticos (leia-se “por recursos”) que o ideologizado PT osasquense.

Assim a chance de fazer poucos vereadores na próxima legislatura justifica pensar no lançamento de um político que quebre a lógica do “cada um por si”, que nosso sistema de lista aberta proporciona, e faça uma campanha de unidade, em torno de um nome central ao legislativo, que se eleja e ajude a conquistar um maior número de cadeiras. Para ilustrar esse tipo de tática poderíamos usar algum dos esdrúxulos exemplos do último pleito, porém há dois casos mais relevantes ao argumento deste artigo. O primeiro é o da campanha de José Dirceu para deputado federal em 2002, em que ele teve destacado espaço na propaganda televisiva do PT e seus mais de meio milhão de votos1 ajudaram o partido a fazer a maior bancada federal que já teve, fundamental no primeiro mandado do governo Lula. O segundo é o da campanha para vereador da capital de José Aníbal (ex-presidente nacional do PSDB e quatro vezes líder do partido na Câmara Federal), onde seus mais de 150 mil votos1 fez muita diferença na divisão das cadeiras e favoreceu a formação da maioria que a prefeitura demo-tucana precisou para aprovar mudanças no arcabouço legal herdado da gestão Marta Suplicy. Dirceu assim que eleito virou ministro. Anibal cumpriu pouco mais de um ano e saiu para ser deputado.

Outro aspecto da candidatura de Emídio à câmara seria tê-lo livre para fazer o corpo a corpo junto com o candidato a prefeito escolhido pelo partido. Enquanto candidato a vereador, Emídio poderia rodar a cidade em campanha, chamando o voto para sua dobrada com o prefeito, colando sua imagem na do candidato ao executivo de modo a que as duas campanhas se confundam na visão popular. Ainda que o coeficiente eleitoral potencial que o prefeito reúne consigo só possa ser mensurado com uma pesquisa muito bem feita, podemos imaginar que seja alto o suficiente para que o partido dobre o número de cadeiras na câmara e que o candidato à prefeito pelo PT saiba o quanto foi decisiva a participação do vereador Emídio em sua eventual vitória.

Há, contudo, uma obstáculo à candidatura de Emídio para a câmara que é a pretensão de seu grupo político na disputa de 2014. É de conhecimento de todos que o prefeito disputou a indicação do seu partido à eleição para o governo do Estado e que, por ter retirado seu nome, foi escolhido pelo candidato Mercadante como coordenador de campanha. Com isso Emídio ficou em evidência na cena política paulista e sair candidato a vereador, pode parecer um retrocesso na sua trajetória. Essa visão esconde uma perspectiva focada no cenário mais próximo, ou seja, “não ocupar cargo público a ocupar um cargo de menor peso”. Em oposição está a defesa de que mais importante que isso, “o líder deve permanecer em evidência”, ainda que em um cargo menor. Para ilustrar como essa estratégia pode ser bem sucedida, podemos usar o exemplo do candidato José Serra que, derrotado em 2002, saiu a prefeito em 2004, se elegeu e se projetou para a disputa do governo do Estado em 2006. A despeito das críticas quanto ao documento assinado se comprometendo a cumprir o mandato, Serra se elegeu governador, com maioria do eleitorado da cidade de São Paulo e ainda ajudou a reeleger seu vice, Kassab em 2008. Se considerarmos ainda que deixar um mandado de prefeito é muito mais grave que deixar um eventual mandato de vereador, não há porque temer um “downgrade” de dois anos, afinal, mais importante que a queda momentânea no grau de poder, é evitar uma vacância do contato de um líder com seu povo.

Por fim, existe o argumento da construção partidária, do sacrifício individual em prol do interesse de uma coletividade, do altruísmo inerente à boa política que, se em alguns gera desconfiança, para a grande maioria exibe o lado humano do homo politicus. A candidatura de Emídio reduziria a luta fratricida entre os concorrentes petistas a câmara, pois obrigaria aos outros candidatos disputar frações menores do voto, um voto mais qualificado, mais comprometido com o mandato do futuro vereador. Emídio seria o responsável pela maior parte da votação do partido, ou seja, conquistaria os votos daqueles que, em 2008, votaram nele para prefeito, mas não no PT para vereador. Os demais candidatos do partido teriam que focar sua atenção em grupos menores, com os quais o diálogo pode ser mais direto, constante, dando a real dimensão do tamanho de cada um. Se extrapolarmos um pouco é possível fazer uma analogia com o que o presidente Lula fez por Dilma na campanha para o senado em 2010. Lula rodou o país apoiando candidatos que, muitas vezes, colocavam o prestígio do presidente em risco, tudo para poder construir uma maioria que desse sustentação a sua sucessora.

Longe de querer dizer o melhor que o partido do prefeito Emídio deve fazer, este artigo procurou argumentar que existem múltiplas razões para que não se descarte uma possibilidade de candidatura do atual chefe do executivo à câmara dos vereadores. Esse debate, se feito com seriedade, pode-se mostrar útil talvez não para a definição de estratégias de longo prazo, mas sim para a utilização em Osasco de táticas que se mostraram vitoriosas em outros lugares. Estas, contudo, são sujeitas a diversos fatores que seriam impossíveis de listar em um artigo, mas que, no entanto, podem ser discutidos pelos formuladores da estratégia (ou então pelos leitores desse site, postagens serão muito bem vindas).

1 dados extraídos do site do TSE, http://www.tse.gov.br em 07.02.2011.
  
Ricardo Tadeu Sá Teles é estudante de Gestão de Políticas Públicas
e filiado ao Partido dos Trabalhadores de São Paulo.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Um aniversário no inverno...
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Mês passado fiz 27 anos e pensei em escrever algumas linhas sobre essa data. Acabei deixando pra depois por causa do fim do semestre na faculdade e do novo emprego em que entrei. Momento conturbado esse agora, cheio de mudanças que ainda não se encerraram... Todo ano é assim. Junho-julho são os meses em que nós, cancerianos, começamos um novo ciclo. Nosso "Ano Novo" começa em pleno inverno e isso tem relação direta com as mudanças por que passamos. Aqueles que nascem nesta data vêm ao mundo na época mais fria do ano e por isso demonstram, desde muito novos, grande apego ao colo, ao abraço, ao afeto e ao "ninho" de onde saíram. São pessoas sensíveis, protetoras, compreensivas e talvez por isso nosso signo esteja associado ao lar, à família e às amizades. Cada canceriano elege qual será seu círculo mais próximo com o mesmo zelo que os leoninos escolhem seus súditos e os escorpianos suas vítimas rsrs. O meu sempre foi mais amplo que pais e irmãos. Tenho pelos meus amigos um amor fraterno, sincero e sempre procuro manter as minhas amizades ainda que, muitas vezes, acabe deixando de responder um e-mails, um recado ou retornar uma ligação... Até pareço um canceriano relaxado, mas não sou não. Esse mês de julho, de férias, organizei-me para rever pessoas especiais com quem não falo há tempos. Planejei lugares que gostaria de ir, filmes que gostaria de ver, pessoas para visitar... Porém as semanas foram passando e acabei não fazendo nada. Não usei o dia do meu aniversário para reunir as pessoas queridas e não aproveitei o mês seguinte para encontrá-las. Esse inverno de 2009 foi mais vazio do que em outros anos. Teve menos sorrisos, abraços, risadas e carinhos. Foi uma pena... E eu que gosto tanto do inverno, que acho essa a época mais agradável, não terei histórias dela para contar! No inverno é quando a gente anda mais bem arrumado, mais bem vestido para enfrentar o frio. As pessoas não ficam suadas e fedidas como no verão. No inverno os abraços são mais apertados e mais demorados pois todos estão atrás de um pouquinho mais de calor. Eu conheço bem o inverno, nasci nessa época e nela renovo meu ciclo. Nascer no inverno tem essa vantagem. Eu gosto do Inverno.

domingo, 14 de junho de 2009

terça-feira, 9 de junho de 2009

Nota e análise sobre os problemas com o Professor de Teoria da Democracia.

Quero registrar aqui, neste espaço público, minhas impressões sobre o que está acontecendo e que, em respeito ao Vinícius e por discordar de como o professor o tratou, não irei à última aula de TD. Antes disso porém gostaria de dizer que essa atitude tem um alto significado para mim pois perder a aula que tratará de um assunto que a nós, petista, tanto traz orgulho, que são as experiências de OP e outras iniciativas de democracia participativa e deliberativa, é algo com grande peso. Estagiei por três anos no Orçamento Participativo e digo que é realmente apaixonante ver como a participação popular nos processos decisórios gera autonomia e educa politicamente os indivíduos. Para mim essa é, finalmente, a "Boa Democracia" que um GPP deve se orientar em contraposição a "democracia das elites", "das oligarquias", do "voto plural", da "participação irracional", da "tirania da maioria" ou da "tirania do proletariado"! Eu fecho com as teorias de Pateman e Gutmann e acho que os trabalhos do Boaventura, Avritzer, Navarro, que tomei contato em minha época de estágio sobre as experiências no Brasil da aplicação dessas teorias, são excepcionais. Porém, apesar de entender a importância dessa última aula como MARCO da PREPONDERÂNCIA daquilo que chamei de "realismo-esperançoso" (inspirado em Suassuna) sobre as demais "Teorias da Democracia", vejo que existe algo maior que meu interesse imediato que deve ser preservado. No jargão político isso se chama "marcar posição" e significa a tomada de uma decisão levando em consideração o "por vir" em detrimento da análise da correlação de forças do momento. Compreendo a crítica de alguns amigos quando aos desdobramentos dessa história. Minha educação política também me ensinou que nunca é saudável quando um processo se radicaliza. Mas se isso acontecer o melhor a fazer é assumir um lado para (pelo menos) preservar o espirito de grupo e internamente construir a distensão, o relaxamento das tensões.
É por isso que faço parte da tendência "Construindo um Novo Brasil (CNB) do PT e do coletivo estudantil ParaTodos, pois sei que minhas opiniões ecoam melhor quando apresentadas dentro de uma unidade que sabe que pode confiar na postura dos seus membros.
Pertencer a um corpo coletivo dá muita segurança para nossas ações que precisam de respaldo. Da minha parte pode esperar sempre esse compromisso. Sinto que a rede que estamos construindo aqui em GPP se manterá para além dos próximos três anos e será sustentáculo para muitas das iniciativa que, nos diversos espaços de atuação onde estivermos, iremos propor.
Temos que reler o primeiro texto que o Pralon nos passou em IEPP do Zairo Cheibub que fala de como os EGGPPs constróem políticas públicas na esfera federal. Gente, é disso que estou falando!!! Responsabilidade Social... Terceiro Setor... Estado... Partidos Políticos... Academia... Nos espalharemos por diversos espaços e se tivermos sólida nossa rede, serão muito mais produtivas nossas práticas.
Por isso vejo nossa unidade como algo que se deva investir tanto quanto o conteúdo de sala. Não estou dizendo que chegaremos a criar uma "Casa das Garças", mas há um elemento que nos dá unidade que é a compreensão de que isolados aprendemos menos, influenciamos menos, somos mais frágeis e a única forma de evitar isso é fortalecer uma unidade comum sem comprometer nossas identidades. É esse elemento que uso para pautar minhas decisões e convido os demais colegas a essa reflexão. Isso, claro, quem chegou a ler até aqui rss.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Uma análise sobre a crise econômica a partir da leitura de textos de Castells e Gramsci.

A crise econômica que o mundo enfrenta hoje é fruto de um processo histórico de conflito entre dois modelos de Estados que se alternaram nos mais diversos países do globo durante o século XX e início do século XXI. Estamos falando do modelo Intervencionista e do modelo Liberal.
Depois da crise de 1929, o consenso de que o Liberalismo corrigia sozinho os erros dos agentes econômicos e que por isso o Estado deveria ter reduzida sua capacidade de intervenção, foi contraposto ao modelo de economia planificada dos países socialistas e do estado de bem estar social dos países capitalistas mais desenvolvidos. Imperou por um certo tempo a defesa de valores baseados mais na igualdade de acesso do que na liberdade de escolha e isso se deu não só na economia mas também no campo da política e na vida social.
A partir dos anos 70 o pensamento Liberal retorna com o resgate da tese da “Sociedade de Mont Pèlerin” (composta, entre outros, por Hayek, Fridman e Popper) e é aplicado no campo econômico pelos governos de Thatcher e Regan na década seguinte, tornando hegemônica a idéia defendida pelos Neoliberais de que a desigualdade é um valor positivo pois gera dinamismo econômico ao capitalismo. O século XX termina com a queda da alternativa socialista no início dos anos 90 e a adoção do discurso neoliberal por esses países.
Esse modelo conquista uma inegável hegemonia entre as nações do globo, porém possui limitações que o levou à atual crise econômica mundial. Essas limitações estão fundadas na idéia de que a economia americana é o sustentáculo do desenvolvimento econômico dos outros países e que o dólar é a moeda que representa a riqueza mundial, sem se ater ao fato de que seu valor não está prezo a um lastro real que e sua emissão é feita por uma única nação. Assim a crise que se inicia nos EUA como uma crise do setor imobiliário se torna rapidamente uma crise mundial pois todas as nações estão extremamente ligadas a economia daqueles país.
Mas e a sociedade nessa história toda? E as pessoas?
É muito comum nesse tipo de análise sobre a crise econômica mundial que a gente desconsidere o papel do indivíduo no processo e minimize sua participação frente aos “grandes atores” (estados, instituições, nações, etc). No entanto toda instituição é composta por indivíduos e são indivíduos os primeiros a serem afetados pelas definições políticas e econômicas desses grandes agentes.
Muitos intelectuais se propuseram a olhar as dinâmicas da contemporaneidade a partir do impacto da ação do homem no seu meio e do seu meio sobre o homem. Manuel Castells é um dos mais conhecidos autores que fala do momento atual a partir da relação que o indivíduo estabelece com a rede. No prólogo “a Rede e o Ser” escrito no livro “A sociedade em rede” ele argumenta que por mais que o mundo se torne uma grande rede (ele estabelece uma linha evolutiva da sociedade Industrial para a Sociedade Informacional), onde o capitalismo conquistou finalmente sua hegemonia, a tecnologia da comunicação rompeu barreiras físicas e a sociedade mundial tem a chance de se unir em uma grande rede, o que mais se observa são os indivíduos se voltando para aquilo que ele chama de “identidades primárias” (familiares, culturais, religiosas, etc) do que suas “identidades secundárias” (papel econômico, profissional, político, acadêmico, etc)
Castells estabelece essa distinção entre os dois conceitos a partir da carga de integração com a realidade global que eles possuem. As identidades primárias são aquelas formadas a partir da história de vida do indivíduo com seu meio mais próximo, já as identidades secundárias são resultado da compreensão racional da relação que o indivíduo estabelece com o global. Ele vê que muitas patologias sociais da atualidade são fruto da crise de identidade que os grupos sociais passam ao se deparam com o conflito entre o fenômeno da mundialização e a preservação das identidades locais. Essas patologias são maiores ainda quando o próprio sistema global entra em crise (como essa que vivemos hoje) e as identidades primárias afloram através de racismo, xenofobia, perseguição a minorias étnicas entre outros.
A recusa do global por ver nele uma ameaça é um fenômeno contemporâneo que Castells observa e, seguindo a sua leitura, a atual crise financeira mundial pode ser um catalisador desses descontentamentos e resultar em um acirramento dos conflitos entre povos.
Um outro autor importante que viveu parte do século XX e identificou que a sociedade civil exerce um papel importante na ação do Estado foi Gramsci. Herdeiro de uma tradição marxista, Gramsci vê sim um protagonismo do Estado nas ações, no entanto seu olhar se volta à sociedade de massas que emerge e que entra em choque com o estado quando este não consegue estabelecer hegemonia (a construção da contra hegemonia). Para ele essa hegemonia só pode ser conquistada através da superestrutura* conforme ocorreu nos EUA onde a sociedade foi convencida de que é, primeiramente consumidora e só depois cidadã; na Europa onde os regimes autoritários convenceram a sociedade a se ver como massa e na URSS onde o Estado retirou da sociedade a capacidade criativa de se auto organizar.
Segundo Gramsci a classe dominante sempre faz algumas poucas concessões à grupos divergentes para estabelecer com eles um “Bloco Histórico” de dominação. Esse fenômeno é parte da construção da hegemonia e quando é apenas para evitar que a hegemonia já estabelecida sofra ranhuras na sua estrutura, Gramsci a caracteriza como “Revolução Pacífica”.
É possível observar na crise atual uma revolução pacifica nas regras do jogo econômico. Quando economistas conservadores se dispõe a buscar nas leituras mais progressistas alternativas para corrigir a rota do modelo neoliberal, seguramente não é uma contra hegemonia que eles estão construindo mas sim um outro processo, possivelmente uma “Revolução Pacífica”. Cabe saber agora que sociedade vai emergir desse novo momento histórico e se ela vai aceitar pacificamente a reforma do sistema ou se dará vazão a arranjos institucionais mais criativos. As diversas edições do Fórum Social Mundial ensaiou a elaboração de um novo projeto para o mundo, as experiências plebiscitarias de muitos governos latino americanos também apontam em uma nova direção. Pela análise Gramsciana não podemos prever o que virá, mas podemos afirmar pelo menos que essa crise resultará em uma nova hegemonia social.
*conceito marxista que reúne tudo aquilo que pertence a sociedade as que não é material (Arena Política, Econômica, Ideologia, Instituições tradicionais, etc)

Escrito por Ricardo Tadeu Sá Teles em 18 de maio de 2009 para a prova de "Sociedade e Políticas Públicas" do curso de Curso de Gestão de Políticas Públicas da Universidade de São Paulo.